As formas apelativas com que se
vendem os espetáculos e que apresentam os eleitos, a forma que nos lançam goela
a baixo aquilo que pertence aos poderosos, simplesmente me parece uma afronta a
inteligência social brasileira, que facilmente afirma ser verdadeira sua ignorância
ao comprar os ídolos melhores situados nas vitrines.
Se Romário denunciava a poeticidade de
Pelé quando este estava calado, o que pensar quando o assunto é MMA e seu
grande “ídolo”? Anderson Silva calado e dentro da jaula é gênio, fora dela não me
interessa saber, mas nas atuações de marketing propostas por seus empresários e
patrocinadores é um fiasco, me causa constrangimento ver Anderson em palavras,
ele está anos luz de Pelé quando o assunto é expressão não-esportiva. Querem
fazer dele o pop star que jamais será por natureza, não tem cacife pra isso, e
no que ele poderia ser, baseado em seu talento e criatividade nas lutas, um “mestre”
afro-brasileiro da arte tailandesa, mas não; em nome da grana, da fama, da
interatividade característica dos seus empregadores, ele prefere abdicar da sua
aspirante candidatura a Rei sendo Zulu e Rickson, para ser um Zorra Total de
Ronaldo Fenômeno que junto a rede Globo são os criadores de falsos mitos.
Depois da pioneira “luta do século”
ser uma frustração, agora aparece a imprensa vendendo a segunda luta entre
Anderson e Sonnen como “a luta do século”, que propaganda babaca e barata, até
2100 quantas lutas do século teremos? Só existe “a luta do século” depois dela
acontecer, e provavelmente não será numa disputa de cinturão, ou com os maiores
campeões de seu tempo, estes geralmente estão concentrados na venda do seu
produto e não na honra de um épico sem terceiras intenções, além do mais esta
eleição ficará a cargo do tempo, na memória da tecnologia que irá provar pelo
olhar imparcial do futuro a obviedade do ato com pequenas variantes da
subjetividade critica dos indivíduos do sempre. Por isso temos um ídolo atemporal
e cosmopolita como Royce Gracie, porque este não foi feito pela mídia, mas pela
honra de seres humanos que suaram sangue, independente da falsa honra de
habitar no Olimpo imaginário dos homens, Royce, Mauricio Shogun, Lyoto Machida,
José Aldo, Cigano e Minotauro que apesar de assim ser chamado habita entre
homens, todos eles foram fracos e suas fraquezas só existiram para provar suas
forças diante da humanidade e do esporte, alguns que ainda são jovens devem
saber envelhecer para não parecerem e aparecerem anacronicamente como deuses
abestalhados, a eternidade não está na invencibilidade, mas na importância dos
seus atos e na particularidade característica destas pessoas para este universo
de luta e de seres humanos.
Retornando ao tema principal e
pegando um gancho (no sentido pirata e não Eder
Jofreano) no pensamento de Marcelo Rubens Paiva: quando apresentarem algo ‘do século’, imagine como seria uma coisa ‘do milênio’?
daqui a pouco o excesso de formandos em marketing e a falta de ideias não tardará
de eleger precipitadamente um substituto qualquer para o Spider para esta luta
milenar, provavelmente entre Jon Jones e um lutador ainda desconhecido para nós
do presente ou do passado; sendo que em quase 20 anos de UFC continuo ouvindo
uma quantia razoavelmente grande de “maiores de todos os tempos” até um deles
perder duas lutas seguidas e ser aposentado rapidamente pela falta de interesse
daqueles que possuem o direito de transmissão dos eventos ao vivo. Disto é
feito a mídia, de fabricar mitos efêmeros que servem de alimento para si, um
monstro real e poderoso capaz de manipular o presente, mas não tão poderoso a
ponto de vencer o tempo.
Diego
Marcell 02-06-2012
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