Se
no primeiro UFC no Rio de Janeiro Minotauro vertia uma solitária lágrima de
sangue ao nocautear um nocauteador após seu longo período de sofrimento devido
operações, tempo parado e meses de muleta; e o ultimo ex-campeão meio-pesado
martelava a cabeça daquele que o derrotou em sua estréia no evento o também
ex-campeão Forrest Griffin, Shogun parecia realmente um líder samurai executando movimentos suaves e
aguardando a hora de atacar.
O jovem Edson Barboza
faz uma luta lindamente plástica contra o inglês Ross Pearson e influenciado
pelo poder de lutar em casa leva por decisão dividida a luta segundo dois dos
três jurados, e ambos os lutadores merecidamente recebem como prêmio a “luta da
noite”. Em seu retorno a cidade maravilhosa, Barboza enfrentando um lutador
menos brilhante, não apresentou tantas armas de seu Muay Thai enquanto o meio
temporal de seu confronto discorria, em meados do ultimo round, porém, segundo
suas próprias palavras, o Deus o iluminou para o show de um card a principio
criticado, mas que ali já não deixava expectativas inferiores ao anterior, um
chute rodado, num corpo treinado em um ser iluminado, o nocaute que enquanto
houver vida humana na terra, será reprisado; um dos nocautes mais belos de
todos os tempos que faria todo ficcionista regozijar de êxtase ao ver que suas
plasticidades cinematográficas eram possíveis naquele chute perfeito.
Toquinho que em sua
primeira apresentação 5 meses antes, havia proporcionado mais uma bizarrice em
sua carreira de dualismo “habilidade vs brutalidade”, ao decretar-se vencedor
após uma sequencia de socos no adversário, tendo de retomar ao embate após o
próprio adversário crer que havia sido derrotado naquele momento e o arbitro
ter ficado sem saber o que fazer com tal situação; desta vez, já no card
principal, recebendo a melhor finalização da noite no que lhe é natural, quando
o adversário sentiu Toquinho pegando seu calcanhar, percebeu que não havia nada
mais o que fazer e num flash de segundo deve ter imaginado suas articulações do
joelho serem prejudicadas antes mesmo do fato ocorrido, num olhar de
desespero, na expressão do seu rosto,
ele foi o mais rápido que pode em desistir, antes que não conseguisse voltar
para casa por suas próprias pernas.
O arbitro brasileiro Mário
Yamazaki, que já demonstrou ser confuso em alguns casos, neste segundo evento
carioca, demonstrou ser desejável em aparecer além de seu papel, ao
desclassificar um cara de personalidade genial dentro dos cages, e como o
próprio Dana disse, manchando seu histórico com um excesso de precisão jamais
visto em outras lutas, sendo que não me lembro de desclassificação desta forma
num lance tão “suave” comparado a tantas pancadas aplicadas no mesmo lugar por
pesos-pesados de mãos pesadíssimas. Eles deveriam por justiça aplicar um “sem
resultado” nestes casos, sendo que estes exemplos de vitórias por
desclassificação é um reflexo distorcido da realidade, como vimos no confronto
pífio entre Anderson Silva e Yushin Okami, um japonês escolhido por ter sido o
ultimo a derrotar o campeão, mas que se sentiu constrangido pela guarda baixa
do brasileiro que o encarava, um cara que tem a oportunidade de desafiar o
campeão deve dar sua vida dentro daqueles cinco rounds, mesmo que perca, mesmo
que seja nocauteado ou submetido, honre a oportunidade de enfrentar o campeão,
a oportunidade que lhe concederam, assim como tantos outros fizeram e que este
representante de um país que se diz referencia no assunto e que por tanto tempo
transmitiu as artes marciais ao mundo, não conseguiu fazer.
Finalmente chegamos ao
homem que carrega em sua áurea muita coisa além de um simples lutador, muito
superior a possuir o mesmo titulo por muito tempo, a representatividade de
Belfort é mística no MMA e no UFC. A principio eu achava que o Johnson era só
mais um que vinha para cair em poucos segundos, mas nas prévias pude ver que
apesar de não possuir uma estrela especial, ele era uma pedra no caminho da
glória, ainda mais quando um cara que lutava nos 77 Kg não consegue bater os 84
que a nova categoria exige, e um Vitor tendo que perder cinco quilos 24 horas
antes da pesagem e cumprir e se apresentar desidratado na encarada, a festa
começava a apresentar problemas. Mas como o próprio declarou depois da luta,
relembrando os primórdios do UFC, quando se lutava duas, três vezes na noite
com caras muito maiores, Vitor estava focado em cumprir com a proposta de lutar
em casa. Olhando de fora, pareceu uma luta mais difícil que outras com
lutadores mais renomados, muito em vista do que aquilo representava, na forma
de luta do oponente, e de como tudo estava acontecendo, mas este homem também
possui um Deus que o ilumina, e se Ele escreve certo por linhas tortas, sua
derrota um ano antes deve apresentar um propósito superior, e lutando em casa,
em tevê aberta, o cara do vale-tudo, no glamour do Mixed Martial Arts relembra
que é discípulo também de um grande mestre nacional, o fenômeno de Carlson
Gracie esgana o galo para terminar uma luta como a uma década não fazia,
finalizando como um faixa preta de Jiu-Jítsu brasileiro.
E nada melhor que
encerrar um dia escolhido pelos deuses das lutas com o menino da favela
enfrentando o boyzinho americano, o já incontestável campeão José Aldo Jr.
enfrentando o lutador de wrestling invicto a onze lutas Chad Mendes, para provar
que por mais que os americanos com suas necessidades de vender uma história de
superação e supremacia do seu povo baseado numa venda da imagem perfeita da
“força familiar”, dos detalhes sentimentais explorados para uma comoção
nacional, os brasileiros só querem esquecer tudo isso e vencer, porque nós não precisamos
vender aquilo que a realidade nos deu como verdade social para Conquistar, e
José Aldo é a materialização disso ao vencer no ultimo segundo do primeiro
round o garoto americano e encerrar na maior expressão de brasilidade que o UFC
poderia ter, se misturando com o povo, o garoto da favela que era naquele
momento a representação da possibilidade que o ser humano tem de vencer na vida
independente de onde ele tenha saído, ao mesmo tempo ele retornava a sua origem
de anônimo em meio a multidão cumprindo o ciclo na metáfora que abarcou todo o
evento como reflexo do Brasil social, cultural e também exportador. Neste dia,
para o mundo das lutas aquela profecia do fim do mundo poderia ser verdadeira,
já que o Ultimate Fighting Championship criado pelo Brasil cumpria seu ciclo no
dia 14 de janeiro de 2012. Todos os mestres das artes marciais da história se
rendiam ao espetáculo que sabiam ser iluminado por um Deus que os escolheu,
surgindo em cada cultura a milhares de anos, até culminar no clã chamado Gracie
na era da globalização.
Diego Marcell
15-01-2012
Surpreendentemente fantástico, uma bela canção a um evento espetacular... cada vez mais você tem sabido extrair a poesia-essência do cotidiano...
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